2 de fevereiro de 2015

Perdidas News: O Jogo da Imitação não imitou tão bem assim...

Você pode não ser uma aficionado em cinema; pode não saber todos os indicados ao Oscar deste ano; pode até não saber quem é Benedict Cumberbatch (mas deveria!); e pode não saber quem foi Alan Turing, mas pelo menos deve ter ouvido falar de um dos filmes mais comentados entre os candidatos a melhor filme no Oscar: O Jogo da Imitação.


O filme, com estreia prevista no Brasil para o dia 05 de fevereiro, é baseado em uma biografia de Alan Turing, e conta a história do matemático que através da construção de uma máquina de descriptação, conseguiu quebrar o código usado pelos nazistas nas transmissões de mensagens durante a segunda guerra mundial. Isso, é claro, deu uma enorme vantagem aos britânicos e aos países aliados, o que foi um dos fatores determinantes para que vencessem a guerra. Além disso, suas contribuições deram início ao que hoje nós chamamos de ciências da computação e algoritmos, ou seja, se você tem um computador hoje, deve agradecer em grande parte a ele.

Porém, o filme , que já estreou nos EUA, vem sendo motivo de revolta, pois a adaptação ficou muito distante da biografia...
Primeiramente, Turing sempre foi descrito por pessoas próximas como uma pessoa de fácil convívio, super humilde, ou seja, uma pessoa do bem. Porém, no filme ele é retratado como uma pessoa de convívio difícil e que não trabalha bem em equipe.

Alan Turing - sua versão adaptada por Benedict e o original  

Outro ponto que causou espanto foi que no filme Alan Turing teria uma noiva, representada pela atriz Keira Kneigthley, mas na vida real Alan era abertamente gay (em uma época que isso era considerado abominável!) sendo castrado quimicamente em 1952 devido a sua orientação sexual. Muitos acreditam que isso foi um fator determinante para o seu homicídio  por cianureto em 1954. Devido aos hormônios que lhe eram administrados, ele acabou por desenvolver seios, o que acabou lhe causando uma grande humilhação pública, que também pode ter influenciado seu homicídio. É claro que isso também não consta no filme...

Em 2009 o governo britânico fez um pedido de desculpas formal por ter obrigado a castração química à Turing como alternativa à prisão por ele ser homossexual. Sim... era crime ser homossexual naquela época.

Como dito anteriormente, o filme que estreiou nos EUA no dia 14 de novembro,  foi baseado em uma biografia, ainda sem tradução no Brasil, do autor Andrew Hodges. Isso tem gerado um questionamento entre os fãs de Turing e os cinéfilos: Por que basear um filme em uma biografia se o personagem retratado esta sendo representado totalmente diferente do apresentado na biografia?


Essa é também uma das reclamações mais frequentes de uma legião de fãs que veem suas séries serem adaptadas para o cinema e destruídas por roteiristas, que pressionados pelo disputado mercado cinematográfico, precisam sempre adequar as obras de forma a atingir o maior número de público (colocar a castração química poderia causar certo repúdio de parte da população ou reprimendas, por isso, essa parte da história pode ter sido omitida na hora de adaptar a biografia), e fazer com que uma história que já era atrativa e comercialmente rentável, se torne ainda mais chamativa à ponto de serem acrescentadas cenas que não existem no roteiro original (como algumas mudanças que ocorreram nas adaptações de maze runner, divergente, entre tantas outras...)

Mas até que ponto devemos permitir o detrimento de uma história em pró de uma rentabilidade melhor, ou em pró da liberdade de expressão através da sétima arte?
No caso de adaptações como as citadas anteriormente, tratam-se de personagens fictícios, com histórias fictícias. Porém, com Alan Turing trata-se de um personagem real! Ou seja, as pessoas que não conhecem a história de Alan passarão a ter um visão distorcida de acontecimentos históricos e de Alan Turing.

Muitos passarão a acreditar que a história retratada na tela dos cinema é o que realmente aconteceu e isso causará um empobrecimento na cultura desse indivíduo, que pode nunca mais ser consertada, pois pouquíssimas pessoas saem das salas de cinema pesquisando no Google a vida e obra do personagem do filme. Para a grande maioria dos expectadores, a história é aquela contada, pronto e acabou.
Não sou contra a inserção ou omissão de certos aspectos da história quando um livro é adaptado. Acho até normal. O que me espanta é ver isso acontecer tão fortemente em adaptações baseadas em fatos reais.
Os roteiristas não precisam transformar o filme em um documentário apenas porque trata-se de uma história real, mas também não precisam distorcer taaantooo a realidade, né?

Ainda não há informação se alguma editora brasileira irá publicar este livro por aqui, "pegando carona" no sucesso e na publicidade do filme, mas para quem quiser conferir a biografia, é possível importa-la da Amazon através deste link.

O que vocês acham desse bafafá acerca da adaptação desta biografia? Já conheciam Alan Turing? Deixem suas opiniões nos comentários e vamos abrir uma discussão sobre o assunto.
=)

Até o próximo Perdidas News.


12 comentários

  1. Até hoje não entendo qual é o problema de fazer uma adaptação fiel à obra. Fogem desde os detalhes mínimos até os mais escabrosos. Ainda estou me perguntando qual era o problema ter colocado o vestido da Hermione azul, tal como no livro O Cálice de Fogo, ao invés do rosa que usaram no filme. Nessa adaptação a qual o post se referte, várias coisas foram mudadas (provavelmente apenas para atender os interesses da indústria do cinema) e eu entendo perfeitamente a indignação dos fãs. Se era pra ser assim, creio que seria preferível não fazer o filme.

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  2. Olá Natália! :D

    Uau, confesso que nunca ouvi falar do Alan Turing, nem de sua biografia, muito menos do seu filme! Estou me sentindo muito, muito desatualizada! rs. Enfim.
    Acho horrível esse negócio de mudarem o livro original. No caso de Maze Runner e outras ficções, a tragédia não é tão grande pois, como disse... É ficção. Ninguém está sendo afetado pelas mudanças dos fatos (a não ser nós, leitores frustrados!).
    No entanto, quando se trata de uma biografia, eles precisam lembrar de que estão retorcendo uma história real. Uma história que jamais deve ser distorcida. É fato que muita gente assistirá o filme e nem irá atrás do livro... Por que? Porque é a nossa realidade. Filmes são mais fáceis :/ Enfim. Com isso, a pessoa fica com uma visão completamente diferente da realidade, tudo porque eles querem vender mais.
    Decepcionada e frustrada com a notícia. No entanto, mais uma vez, não há nada a ser feito contra isso. Não iria assistir ao filme mesmo... Agora, menos ainda.

    Beijos,
    Ana M.
    www.vicioemlivros.com

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  3. Nossa!! Que vergonha!
    Que pena! Eu estava com muita vontade de assistir esse filme, mas, agora, já perdeu meu respeito.
    Não é novidade que o cinema distorce a realidade para que a história renda mais, financeiramente.
    É uma pena!
    A história real do Turing é linda e renderia um ótimo filme!
    Beijos!!

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  4. Olá, Natália.
    Achei bem interessante a reflexão final sobre o tema abordado. Eu até entendo a modificação de obras literárias para o cinema (apesar de não gostar e não concordar), mas modificar uma biografia, uma história é real... Vejo como praticar uma disseminação em massa da desinformação. É triste que isso aconteça apenas para visar lucro.
    Excelente postagem!

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  5. Interpretação maravilhosa de Benedict Cumberbatch!!!! Acho que a história de Alan Turing devia ser obrigatória nas aulas de história. Pena que vai ser difícil competir com outros filmes no Oscar (Birdman, A Teoria de Tudo, etc...) Mas torço por Benedict.

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  6. já ouvi falar neste filme sim, apesar de não conhecer o cara nem a história dele hahaha
    estou bem curiosa para assistir o filme
    quanto as mudanças da história real para a adaptação, isso me incomodou um pouco. tá certo que no filme a história sempre muda, mas senti que ai eles exageraram um pouco né =/

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  7. Já virou rotina filmes não serem nada parecidos com os livros. Outra revolta minha é um filme ser lançado 500 anos antes em outros países, e no Brasil 500 anos depois! Sacanagem!

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  8. Já tinha ouvido falar vagamente sobre Alan Touring, mas não conheço sua biografia. Não tinha ouvido falar desse bafafá todo, mas confesso que fiquei com a pulga atrás da orelha com os seus comentários. Não me entenda mal, concordo com tudo que vc disse sobre adaptações literárias de personagens reais x fictícios. Mas é que a história que o filme conta me parece muito mais lógica...
    1) Em geral, pessoas geniais são muito difíceis de lidar mesmo.
    2) O que era ser gay abertamente naquela época? Pelo filme entendemos que as pessoas mais próximas percebiam, mas ele ficou noivo como uma forma de ela continuar em Bletchley e realizar o desejo dos pais dela de se casar. Mas ele conta pra ela que é gay, e um dos colegas tb sabe.
    3) No filme ele é obrigado a fazer um tratamento hormonal. Não diz exatamente de que tipo. Imaginei que fosse tipo uma "cura gay", não uma castração química (que não faz tanto sentido, a não ser que as autoridades tivessem medo que ele colocasse filhos gays no mundo?!). E pelo que vc falou ele começou a desenvolver seios, com o pouco que entendo esse tratamento deveria ter estrogênio ou outro hormônio feminino, o que deixa mais confuso...
    Tomara que lancem o livro em português, pq só assim pra eu ler. Não sou muito chegada a biografias, mas fiquei curiosa, se foi um problema de adaptação ou se a biografia desse autor que difere das outras.

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  9. Infelizmente, o cinema adapta as grandes obras literárias da forma que eles bem entenderem e quiserem. O que é uma pena, porque na maioria das vezes eles acabam fugindo da história central, como no caso do filme da Biografia do Alan Turing , "O Jogo da Imitação". Não adianta possuir um conjunto de atores bons, diretores consagrados, se não sabem levar a história do livro para as telonas da forma que ela é. Meu professor de Filosofia citou este filme na sala de aula e fiquei realmente curiosa para vê-lo. Mas sabendo que não há muita verdade no que vai ser apresentado. Principalmente por o Alan ser gay e eles colocarem uma noiva no filme para ele (OIIII?????!!).
    Torcendo para que lancem o livro aqui no Brasil.

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  10. Eu amo cinema, o tema da minha monografia foi sobre cinema, já que analisei e confrontei a história escrita, que é considerada verdadeira e tal e o filme/cinema, que é considerado falso, irreal. Mas enfim, muitas vezes lr um livro e depois assistir o filme sempre nos decepcionamos, pois NUNCA são como o livro, acabam fazendo muitas adaptações,aconteceu varias vezes comigo, pois criamos uma expectativa e na hora nada. Sempre é assim,a pesar de ainda amar o cinema.

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  11. Sinceramente, acho um absurdo o que muitos roteiristas/diretores fazem com as adaptações. Principalmente com as personagens reais. Até entendo omissão de informações, mas inserção de cenas irreais e que fogem completamente do contexto e mudança de personalidades, deveriam ser causa de processos. Se já fico irado quando mudam completamente o sentido com as ficções, imagina quando mudam a realidade?!?!

    @_Dom_Dom

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  12. Uma pena, justamente neste que eu estava com vontade de ver.
    Bjs, Rose

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